Artigo do Padre Leandro Bernardes: A importância da posição de joelhos
16:35
A Eucaristia: o dom recebido
É de fundamental relevância o momento da recepção do sacramento
eucarístico. Este exige do fiel comungante uma atitude receptiva, pois a
Eucaristia foi, é e será o dom recebido. É o dom, e não apenas um dom. A
Eucaristia encerra todos os dons, pois condensa sacramentalmente a
presença real de Nosso Senhor, isto é, o próprio autor de todo dom, de
toda graça. A Eucaristia é sempre recebida, oferecida, transmitida e
isso acontece ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.
A posição de joelhos como um gesto cristológico
A tradição multissecular da Igreja sempre compreendeu que a forma de
comungar é de joelhos e na boca. O então cardeal Joseph Ratzinger, em
seu livro introdução ao espírito da liturgia diz: “A posição de joelhos
não é apenas um gesto cristão, mas também um gesto cristológico”. Nos
ajoelhamos para receber a eucaristia porque é um gesto cristológico,
isto é, não é algo exterior somente, mas algo profundamente
cristológico, que nos aproxima do Cristo vivo. Quem se ajoelha diante da
eucaristia rompe com o orgulho e humildemente reconhece que ali está
quem é maior.
Muitos questionam o gesto de ajoelhar, como se pervertesse o sentido de
que Deus se fez simples, como uma exacerbação, um exagero. Ora, o que
fazemos diante dos pequenos? não nos rebaixamos a eles? Quando
conversamos ou abraçamos as crianças, nos rebaixamos para que elas sejam
elevadas, para que elas sejam dignificadas e não rebaixadas pela nossa
maior estatura. O Deus que se rebaixou, que se despojou de sua glória
nos dignificou. Qual o nosso gesto diante da grandeza que recebemos? Nos
ajoelhamos diante da Eucaristia, porque Deus se fez um de nós,
justamente porque ele se rebaixou. A atitude diante da kénosis de Deus é
também a kénosis do humano. Se Deus deixou a sua glória para nos
elevar, nós também fazemos como Ele, nos rebaixamos porque reconhecemos
que é dele que provém toda glória.
A dimensão pascal do gesto de ajoelhar-se
Se pensarmos que a glória foi-nos dada por meio do mistério pascal, e
por isso devemos permanecer de pé, pois estamos ressuscitados,
esvaziamos o sentido de elevação pela humilhação que a própria páscoa é.
Cristo se humilhou para nos elevar, sem o sentido de rebaixamento não
podemos viver como ressuscitados, não há ressurreição sem morte. Na
liturgia vivemos o mistério pascal que consiste em morte e ressurreição;
quando nos colocamos em pé é evidenciado o sentido de ressurreição,
quando nos colocamos de joelhos é evidenciado o sentido de morte, de
despojamento, de humildade. Não há dicotomia entre morte e ressurreição.
É um verdadeiro absurdo não se ajoelhar em uma celebração eucarística;
contradiz o real significado da páscoa que é atualizada por meio do
sacramento eucarístico. A atitude obediente de se ajoelhar nos momentos
específicos, que a piedade eucarística ao longo dos séculos desenvolveu,
é profundamente consonante com a riqueza litúrgica e espiritual da fé
católica (Lex orandi, Lex credendi: a lei da oração é a lei da fé). Por
isso todos os fiéis são chamados a se ajoelharem diante da Eucaristia,
seja no momento da consagração, seja na recepção das sagradas espécies
ou da exposição do Santíssimo Sacramento, ao passar diante do sacrário,
etc. Todos são chamados, e não obrigados. A Igreja não ensina a estrita
obrigação, mas chama à obediência livre e consciente de suas normas
litúrgicas. Além de ser uma norma litúrgica, a posição de joelhos é uma
manifestação da fé no Cristo presente na Eucaristia. Quando se reconhece
essa presença real, a posição de joelhos flui naturalmente pela razão e
sobrenaturalmente pela graça. Ajoelhar-se não é somente um ato de fé,
mas a união entre fé e razão. Se ajoelha quem reconhece pela fé e a
razão Deus, sua presença, sua divindade, sua santidade e também, sua
humanidade em Jesus Cristo.
A Liturgia Cósmica: de joelhos aos pés do Senhor
O papa nos diz em sua introdução ao espírito da liturgia que: “a
liturgia cristã é liturgia cósmica, precisamente porque se ajoelha
perante o Senhor crucificado e elevado”. Estar de joelhos é um gesto
cósmico, isto é, quem se ajoelha aos pés do Senhor, se une com todo o
cosmos, pois é Ele o criador. Diz ainda: “O gesto humilde com que caímos
aos pés de Jesus, insere-nos na verdadeira órbita do Universo”. Sem
dúvida, quando se ajoelha acontece uma verdadeira inserção na órbita do
universo, ou seja, no movimento da criação. Hoje, muitos cristãos buscam
essa inserção por meio de outras espiritualidades provindas de
religiões orientais que focalizam a união com o cosmos; por meio da
tradição cristã, se entra perfeitamente na ordem da criação, na comunhão
com o criador, dispensando qualquer elemento não cristão. A liturgia
católica não carece em nada de aspectos cósmicos, pois ela mesma é
liturgia cósmica.
A tradição litúrgica da recepção da comunhão na boca e de joelhos
Ao longo de dois mil anos, a Igreja encontrou uma expressão ritual para
testemunhar sua fé e seu amor ao sacramento eucarístico. A partir do
século VI a Igreja começou a distribuir a comunhão diretamente na boca
dos fiéis de joelhos. Isso ocorreu devido ao desenvolvimento orgânico da
liturgia ao longo dos séculos, não como uma deturpação como dizem
alguns liturgistas. A comunhão na boca e de joelhos é atestada pelos
Santos Padres da Igreja dos primeiros séculos.
Portanto, a posição de joelhos é um gesto tradicional na liturgia
católica, profundamente cristológico, que insere o ser humano na ordem
divina, na comunhão com Deus.
Pe. Leandro Luis Bernardes
Fonte: http://www.rainhadosapostolos.com (visita recomendada)
Posted by Gabriel silva.
on 16:35.
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